30 de setembro de 2010

Sugestão


Sede assim - qualquer coisa
serena, isenta, fiel.

Flor que se cumpre,
sem pergunta.

Onda que se esforça,
por exercício desinteressado.

Lua que envolve ingualmente
os noivos abraçados
e os soldados já frios.

Também como este ar da noite:
sussurante de silêncios,
cheio de nascimentos e pétalas.

Igual à pedra detida,
sustentando seu demorado destino.
E à nuvem, leve e bela,
vivendo de nunca chegar a ser.

À cigarra, queimando-se em música,
ao camelo que mastiga sua longa solidão,
ao pássaro que procura o fim do mundo,
ao boi que vai com inocência para a morte.

Sede assim, qualquer coisa
serena, isenta, fiel.

Não como o resto dos homens.



Cecília Meireles

2 comentários:

Eurico disse...

Foi lendo esse poema e outros iguais, que eu, menino ainda, descobri a poesia.
E não mais pude deixá-la. Era a minha pátria. Cá estou.
Teu blogue tem esse condão. De me fazer sentir em casa.


Abraço cordial.

Raquel Mendonça disse...

Obrigada Eurico.
Pois sinta-se em Casa.
Amo poesia e literatura em geral, quando me emociona, claro.
Ainda não tive a ousadia de usar minhas próprias palavras para postar, mas quem sabe um dia consiga.
Por enquanto, no entanto... Observo e aprecio.
Parabéns pelo seu espaço, é uma fonte de leveza e beleza.

Abraços