Têm para mim chamados de outro mundo
as noites perigosas e queimadas,
quando a lua aparece mais vermelha
são turvos sonhos, mágoas proibidas,
são ouropéis antigos e fantasmas
que, nesse mundo vivo e mais ardente
consumam tudo o que desejo aqui.
Será que mais alguém vê e escuta?
Sinto o roçar das asas amarelas
e escuto essas canções encantatórias
que tento, em vão, de mim desapossar.
Diluídos na velha luz da lua,
a quem dirigem seus terríveis cantos?
Pressinto um murmuroso esvoejar:
passaram-me por cima da cabeça
e, como um halo escuso, te envolveram.
Eis-te no fogo, como um fruto ardente,
a ventania me agitando em torno
esse cheiro que sai de teus cabelos.
Que vale a natureza sem teus olhos,
ó aquela por quem meu sangue pulsa?
Da terra sai um cheiro bom de vida
e nossos pés a ela estão ligados.
Deixa que teu cabelo, solto ao vento,
abrase fundamente as minhas mão...
Mas, não: a luz escura inda te envolve,
o vento encrespa as águas dos dois rios
e continua a ronda, o som do fogo.
Ó meu amor, por que te ligo à morte?
Ariano Suassuna
3 comentários:
Quanto bom gosto e simplicidade, na edição deste blogue. Há poucos como o teu, na net. A escolha dos poemas, as imagens. Perfeito. Parabéns.
Eurico disse tudo, faço minha as palavras dele. E quanto a Paulo Leminski? Você não gosta?
Parabéns.
Obrigada Eurico e Renato.
Sejam sempre bem vindos!
Abraço
OBS:Renato, gosto sim do Leminski.
Vou postar um.
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