6 de julho de 2009

Poeminhas pescados numa fala de João


I
O menino caiu dentro do rio tibum
ficou todo molhado de peixe...
A água dava razinha de meu pé.

II

João foi na casa do peixe

remou a canoa
depois pan caiu lá embaixo
na água
afundou. Tinha dois pato grande.
Jacaré comeu minha boca do lado de fora.

III

Nain Remou uma piranha.
Ele pegou um pau pum!
na parede do jacaré...
Veio Maria-preta fazeu três araçás pra mim
Meu bolso teve um sol com passarinhos...

IV

De dia apareceu uma cobrona
deibaixo de João.
Eu matei a boca pequenininha daquela cobra.
Ninguém não tinha um rosto com chão perto.

V

Deminha mão dentro do quarto
meu lambarizinho
escapuliu — ele priscava
priscava
até cair naquele
meu corixo.
E se beijou todo de água!
Eu se chorei...

VI

A Noite caiu da árvore.
Maria pegou ela pra criar
e ficou preta...
Vi um rio indo embora de andorinhas...

VII

Escuto o meu rio:
é uma cobra
de água andando
por dentro de meu olho...

VIII

O sapo de pau
virou chão...
O boi piou cheio de folhas com água.
Eu ia no mato sozinho
o côco de capivaras era rodelinhas — bola de gude
eu quebrei uma com meu sapato
todas viraram chão também...

IX

Você viu um passarinho abrindo naquela casa
que ele veio comer na minha mão?
Minha boca estava seca igual do que
uma pedra em cima do rio.

X

Vento?
Só subindo no alto da árvore
que a gente pega ele pelo rabo...



Manoel de Barros

Do livro: "Compêndio para uso dos pássaros", Livraria São José, 1961, RJ

2 comentários:

Eurico disse...

Estou encantado com teu blogue, minha jovem! A melhor coisa publicada que até hoje encontrei nesta rede! Vá ter bom gosto assim lá nas Olindas!!!

Abraço fra/terno.

Raquel Mendonça disse...

Obrigada Eurico.
Manoel de Barros é tudo de bom e mais um pouco.
Abraço