7 de novembro de 2008

O Catador


Um homem catava pregos no chão.
Sempre os encontrava deitados de comprido, ou de lado, ou de joelhos no chão.
Nunca de ponta.
Assim eles não furam mais - o homem pensava.
Eles não exercem mais a função de pregar.
São patrimônios inúteis da humanidade.
Ganharam o privilégio do abandono.
O homem passava o dia inteiro nessa função de catar pregos enferrujados.
Acho que essa tarefa lhe dava algum estado.
Estado de pessoas que se enfeitam a trapos.
Catar coisas inúteis garante a soberania do Ser.
Garante a soberania de Ser mais do que Ter.


Manoel de Barros

2 comentários:

No Palco da Vida disse...

As pessoas não precisam mais de pregos, pois elas tem a Tecnologia?
Elas perderam o privilégio de brincar com os pregos e se estrepar com as "Gambiarras"? Se não existem mais pregos onde foi parar os brinquedos de madeiras ? Hum? Fica dificil entender para onde vamos e para onde não vamos/
Tenha um Lindo Dia

Raquel disse...

Sempre "precisam" de algo...Um tanto, um pouco, algum tanto.
Alguma coisa, qualquer coisa.
Acho que é apenas uma questão de participação...Ou não!
De qualquer forma acredito que tudo é válido, sejam pregos ou bugingangas tecnológicas.