21 de setembro de 2009

O menino que ganhou um rio


IV

Minha mãe me deu um rio.
Era dia de meu aniversário e ela não sabia
o que me presentear.
Fazia tempo que os mascates não passavam
naquele lugar esquecido.
Se o mascate passasse a minha mãe compraria
rapadura
Ou bolachinhas para me dar.
Mas como não passara o mascate, minha mãe
me deu um rio.
Era o mesmo rio que passava atrás de casa.
Eu estimei o presente mais do fosse uma
rapadura do mascate.
Meu irmão ficou magoado porque ele gostava
do rio igual aos outros.
A mãe prometeu que no aniversário do meu
irmão
Ela iria dar uma árvore para ele.
Uma que fosse coberta de pássaros.
Eu bem ouvi a promessa que a mãe fizera
ao meu irmão
E achei legal.
Os pássaros ficavam durante o dia nas margens
do meu rio
E de noite eles iriam dormir na árvore
do meu irmão.
Meu irmão me provocava assim: a minha árvore
de flores lindas em setembro.
E o seu rio não dá flores!
Eu respondia que a árvore dele não dava
piraputanga.
Era verdade , mas o que nos unia demais eram
os banhos nus no rio entre pássaros.
Nesse ponto nossa vida era um afago!


Manoel de Barros

Memórias Inventadas- A Terceira Infância

4 comentários:

Anonymous disse...

Que presente fabulozo!
Gostaria de ter ganho um rio da minha mãe!

Beijos

FB

Eurico disse...

É por causa desse bom gosto que considero este um blogue clássico!

Abraço fraterno.

Alguém à bordo. disse...

Manoel de Barros é especial. Esse texto é lindíssimo... Seu blog está de parabéns, estou adorando segui-lo!

Raquel Mendonça disse...

Obrigada a todos.
Esse é um dos meus favoritos!
Bj